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Escrito por Max Wilson em 2004

www.maxwilson.blogspot.com

E-mail: maxwilsontenor@yahoo.com.br

 

 

 

O Sentido da Vida

 

 

            A busca por um sentido na vida é inerente ao ser humano. A partir do momento em que somos capazes de raciocinar e, por conseguinte, sabemos que tudo tem uma causa, surgem as perguntas mais freqüentes e mais importantes da nossa existência: Como surgiu o primeiro ser humano? Será que estamos sós no universo? Será que existe algum responsável por estarmos aqui? Por que existe tanto sofrimento nesse mundo? Deus existe? Se Deus existe, por que ele permite tamanho sofrimento? Por que tantas pessoas más conseguem ser feliz enquanto que outras tantas boas têm uma vida tão sofrida?

            A idéia de que só essa vida existe não nos entra na cabeça. A crença em uma outra existência nos é congênita. A maioria de nós sabe que existe uma outra espécie de vida, porém nossa razão só não é capaz de entender ou de explicar a origem dessa certeza. Essa certeza é proveniente do nosso sexto sentido ou intuição.

            Como não fomos capazes de decifrar tal enigma até os dias de hoje, a nossa criatividade, misturada à nossa fé, se encarregou de criar as explicações mais variáveis possíveis para suprir esse nosso vazio existencial.

            Os mitos e as religiões são bons exemplos dessas explicações, sendo que no caso dos mitos eles foram ainda mais longe, atribuindo aos deuses as causas dos fenômenos físicos que até então não existia nenhuma explicação. Porém, acredito que o mesmo ocorra, nos dias de hoje, com a maioria das crenças espalhadas por aí. Muitos aspectos da nossa existência são explicados de uma maneira, no mínimo fantasiosa, como por exemplo, a morte: Cada religião tem sua própria interpretação para a morte, seja a idéia de céu versus inferno como outra qualquer. Chegará o dia em que a morte não será mais um mistério para nós, da mesma forma que muitas coisas, antes explicadas pela fé, são hoje explicadas pela ciência. Nesse dia seremos capazes de perceber quantas coisas absurdas foram ditas a seu respeito e, o que é mais relevante, o que se fez ou se deixou de fazer por acreditarmos em tais idéias, assim como os antigos fizeram ou deixaram de fazer muitas coisas por acreditarem em sua mitologia.

            Quantos já não passaram uma vida inteira se privando de determinados prazeres por serem eles considerados um pecado? Quantos já não devem ter se torturado só em pensar na possibilidade de irem para o inferno por terem feito coisas erradas aqui nessa vida?

 

 

“A fé remove montanhas, mas também as coloca muitas vezes onde elas não existem.”

 

 

            Baseadas na fé e na sensação de transcendentalidade espiritual, que é intrínseca à nossa raça, essas crenças foram construindo seus espaços, foram moldando a realidade de uma forma a serem elas as ditadoras dos preceitos a serem seguidos pelo homem. Assim como o governo dita muitas regras da nossa vida pela força ou por variadas formas de repressão, a religião o faz pela fé. Se essa fé e essa sensação de que existe uma outra vida que não essa na Terra não fizesse parte dos seres humanos, as religiões perderiam completamente sua força.

 

 

"Se recuarmos ao começo, veremos que a ignorância e o medo criaram os deuses; que a imaginação, o entusiasmo ou o embuste os adornou ou desfigurou; que a fraqueza os venera; que a credulidade os preserva; e que o costume os respeita, e a tirania os apóia a fim de fazer com que a cegueira dos homens atenda aos seus interesses." (Barão d'Holbach)

 

 

            Tomemos como exemplo o fato da religião querer, nos dias de hoje, nos proibir de clonar um ser humano, alegando tratar-se de um crime contra a humanidade, ou como ela gosta muito de pregar, de um pecado, entravando assim a nossa evolução, entravando o nosso desenvolvimento assim como entravou, por muito tempo, o desenvolvimento da ciência e do pensamento de muitos filósofos do nosso passado.

            Vejamos como Galileu Galilei foi obrigado a abjurar publicamente suas idéias por ser perseguido e condenado pela religião, por defender a substituição do geocentrismo (teoria segundo a qual os astros giram em torno da Terra), pelo modelo de Nicolau Copérnico, o heliocentrismo (teoria segundo a qual os astros giram em torno do sol). Para a igreja católica, essa nova teoria era uma heresia, uma vez que ela batia de frente com aquilo que estava escrito nas Sagradas Escrituras. Já que as mesmas eram a palavra de Deus, essas não poderiam estar erradas.

 

 

“Deus fez parar o sol para que o povo eleito continuasse a luta enquanto ainda houvesse luz.”                         

 

            O que a religião queria, era fazer da Filosofia uma serva da Teologia, usando-a para converter os pagãos, combater as heresias e justificar a fé. Assim, sempre que as novas descobertas fossem contra as Sagradas Escrituras, essas deveriam prevalecer, ou seja: Se a verdade dos fatos fosse diferente daquilo que estava escrito nas Sagradas Escrituras a verdade deveria ser esquecida.

 

 

“Aquilo que a verdade descobrir não pode contrariar aos livros sagrados, quer do Antigo quer do Novo Testamento.” (Santo Agostinho)

 

 

            Assim como a idéia dos deuses mitológicos se mostra completamente ultrapassada nos dias de hoje, se mostrarão também a maior parte das idéias religiosas espalhadas por aí.

            Para a maioria das pessoas a religião se baseia no simples acreditar. As idéias nos são impostas desde o nosso nascimento até os nossos últimos dias e mesmo sendo uma crença sem o menor embasamento científico, permanecemos nela até a nossa morte. As idéias e os preceitos eclesiásticos nos são impostos de maneira tal que quando menos percebemos esses já se encontram completamente arraigados a nossa forma de pensar e de agir. Pouquíssimas são as pessoas que mudam sua forma de pensar no decorrer de sua vida e muitas são aquelas que se torturam ou deixam de fazer inúmeras coisas, por considerá-las erradas ou um pecado!

            Se Jesus Cristo tivesse vindo ao mundo somente nos dias de hoje, certamente, baseado naquilo que ele diria, o tomaríamos como louco. Jesus Cristo não foi nada mais do que um romântico, um idealista, que como muitos de nós, queria que todos os seres humanos procedessem de uma forma correta, que amassem uns aos outros e não fizessem mal a ninguém.

            Mas também não foi por acaso que essa ideologia cristã perdurou até os dias de hoje. Certamente a missão de Jesus Cristo foi de muito valor para a nossa raça, mas já está na hora de entendermos que suas idéias não correspondem à realidade, que são apenas uma série de histórias bonitas e fantasiosas que foram criadas para que aprendêssemos a nos comportar e a respeitar o próximo; tão belas e tão fantasiosas quanto as que nós contamos às nossas crianças para que elas aprendam a respeitar os outros ou a se comportarem direito. É como se a maioria de nós ainda fosse um espírito muito jovem para compreender a realidade como ela é, como se ainda não estivéssemos prontos para desvelá-la, tendo que aprender os princípios da vida espiritual do mesmo modo que uma criança aprende os princípios da vida carnal.

            Temos uma capacidade de adaptação imensa, somos capazes de aceitar qualquer realidade, por mais fantástica que ela seja, como se essa fosse única e verdadeira. É apenas uma questão de estarmos inseridos nela. Não importa a realidade como ela é. O que importa, é o aprendizado que conseguimos tirar diante dela.

            Existem nos dias de hoje, tribos primitivas que ainda adotam a prática do canibalismo, ou lugares onde seus habitantes passam por sessões de autoflagelação em nome de sua fé. Será que se você fosse colocado em um desses lugares você, com o tempo, passaria a acreditar nessas mesmas crenças e passaria a se submeter aos mesmos rituais? E se você tivesse nascido em um desses locais? Temos a tendência de sermos etnocêntricos, valorizando e validando somente aquilo que nós fazemos ou aquilo que é praticado pela nossa cultura.

            Achamos completamente macabro e desnecessário o comportamento das mulheres da tribo Karen-Padong, por exemplo, localizada em uma remota província no norte da Tailândia, onde argolas são colocadas em seus pescoços para que esses atinjam tamanhos de até vinte centímetros, garantindo com isso, muitas dores nas costas pelo resto de suas vidas, porém, achamos completamente normal uma pessoa ir a missa toda a semana, ou até mesmo todos os dias, para rezar ao seu deus; achamos completamente normal o ato de se acender uma ou mais velas aos entes queridos que já se foram, como se eles só fossem nos escutar se essas velas estivessem ali. Seriam as velas as responsáveis pela abertura do portal que conecta o nosso mundo ao mundo dos espíritos? (Pelo fato de a linguagem escrita não me permitir usar a inflexão adequada para esta última frase, sou obrigado a dizer que se trata de uma ironia). Achamos também muito plausível a idéia de alguém depositar toda a sua fé num objeto, seja ele um santo ou um crucifixo, aos quais, de joelhos e mãos dadas, rezamos para quem eles representam, pedindo pela nossa segurança, nossa felicidade ou seja lá o que for. Todos esses comportamentos, referentes à nossa fé, são invenções da nossa criatividade para suprimir o nosso vazio existencial.

            No nosso dia a dia relutamos tanto para aceitar uma idéia nova, precisamos examiná-la, precisamos de provas e de exemplos para validá-la, não a aceitamos simplesmente pelo fato de alguém acreditar nela. Então por que acreditamos tão facilmente nessas idéias que regem a nossa fé? Só porque assim acreditamos desde que éramos crianças? É claro que, enquanto crianças, ainda não éramos capazes de discernir o que era real do que era apenas uma alegoria para tornar nossa vida mais feliz ou para nos ensinar a agir, por isso acreditamos em coelhinho da Páscoa, duende, fada madrinha, papai-noel, papai do céu e as mais insólitas criaturas. Porém, lhe pergunto: Ainda acredita em coelhinho da Páscoa? Ainda acredita em fada madrinha? Ainda acredita em papai-noel? Espero que não! Mas aposto que você ainda acredita em papai do céu, não acredita? Ele apenas deve ter mudado de nome para Deus, Jesus Cristo ou qualquer outro que você queira usar. Acredita que o papai do céu será generoso com quem assim o for com os seus semelhantes e punirá aqueles que são maus? Ao invés de usarmos nossa fé aliada a nossa imaginação, que tal a usarmos aliada à nossa razão?

            É preciso que nos libertemos da opinião geral e passemos a ver as coisas como elas realmente são. É preciso que deixemos de lado o mau gosto de querermos que nossa opinião seja sempre aceita pelos demais. Cada um vê e sente as coisas de um jeito. O que eu sinto em determinada situação é o que eu sinto; é o que minha experiência de vida, ou de vidas (caso acredite em reencarnação), atrelada aos meus sentidos corpóreos me faz sentir: outro qualquer, dificilmente sentirá a mesma coisa.

            As pessoas tendem a ver as coisas de uma forma muito maniqueísta e pessoal, enxergando na maior parte das questões, apenas dois lados: um bom e um ruim. Dificilmente uma coisa será somente boa ou somente ruim, ou boa para todos ou ruim para todos. É preciso que enxerguemos todos os lados de uma questão.

            Veja com que rapidez, ao serem interrogadas na rua, muitas pessoas saem respondendo qualquer coisa a respeito de qualquer coisa, por mais que não saibam nada, ou quase nada, a respeito do que foram interrogadas.

            Mudar de opinião é sinal de inteligência, de aprendizado. Aquele que permanece sempre com a mesma opinião não sai do lugar, não evolui. O dogmático se encontra completamente fechado nas suas crenças e opiniões e ainda se vangloria pelo fato de não ter aceitado uma outra opinião no decorrer de anos e anos. É como se a opinião dele fosse verdadeira pelos simples fato de não ter aceitado outra, como se não tivesse chegado a ele nenhuma opinião melhor durante toda sua vida. Será que ele atingiu a verdade dos fatos, assim tão rápido, para renegar outras idéias? Ou será que ele simplesmente nem se permitiu avaliar outras possibilidades para não ser obrigado a abjurar sua crença que perdurou por muito tempo?

            A vontade que temos de sermos superiores aos demais mortais, aliada ao sentimento de competição que também nos é presente, faz com que, muitas e muitas vezes, não aceitemos a opinião de outrem somente para não termos que lhe dar razão, somente para que nos sintamos superiores a ele. Com que alegria fica o nosso ego quando no decorrer de uma discussão em grupo, a nossa opinião é aceita pelos demais em detrimento da opinião do próximo! É como se o que realmente importasse não fosse quem está deveras com a razão mas sim quem consegue convencer a maior parte das pessoas que se encontram no local, de que sua opinião é a melhor ou a verdadeira, principalmente quando em muitos casos ninguém está com a razão, ou ambos estão. Pode ser apenas uma questão de perspectiva: aquele que for detentor da perspectiva que tenha mais adeptos será o mais votado.

            Nós já evoluímos muito em várias áreas do nosso conhecimento e a cada dia que passa, descobrimos uma porção de coisas novas. As idéias antigas estão sendo substituídas por idéias novas a cada momento. A ciência já é capaz de fazer uma cópia idêntica de um ser humano, porém, nas questões que dizem respeito à nossa fé e ao plano espiritual, permanecemos na mesma obscuridade de sempre. Acho que já está na hora de acendermos uma vela!

            Se Deus é capaz de transformar água em vinho e fazer surgir o pão, ou é capaz de curar qualquer doença, por que ele simplesmente não dá o que todo mundo quer? Assim viveríamos felizes para sempre! Deus não é onipotente, onipresente? Então! Ele pode qualquer coisa: Pode fazer surgir comida para todos, moradia para todos, pode fazer com que as paixões sejam correspondidas e durem eternamente; qualquer felicidade ele pode nos dar! Então por que isso não acontece? Por que ele não acaba de vez com todos os males e passa a  nos proporcionar somente coisas boas? A resposta é muito simples, mas pouquíssimos são capazes de percebê-la: Esse mundo só não é isento de males e abundante de prazeres porque esse não é o objetivo de estarmos aqui; se  fosse, assim seria, simplesmente. O sofrimento, com efeito, não é em vão: tudo que está acontecendo aqui tem um propósito, uma finalidade. Não estamos sofrendo por acaso! Assim como um atleta que tem que se “matar” de treinar, por mais chato e desgastante que seja o treino, para alcançar a vitória, ou um pianista que tem que se dedicar oito horas por dia durante muitos e muitos anos para poder tocar um prelúdio de Rachmaninoff, também temos que passar por esse calvário para atingirmos os nossos objetivos, para podermos, um dia, adentrarmos em uma vida onde o respeito e a compreensão ao próximo são totais, onde não existe, sequer a hipótese de um ente fazer qualquer tipo de mal a outro!

            “No pain no gain” diz a máxima popular norte Americana: Não há evolução sem aprendizado e não há aprendizado sem estudo. O aprendizado da nossa alma se dá nas diversas situações pelas quais passamos no decorrer da nossa vida.

 

 

“Se a nossa existência não tem por fim imediato a dor, pode dizer-se que não tem razão alguma de ser no mundo.” (Arthur Schopenhauer)

 

 

            Somos vontade de potência, já disse Nitzsche. Estamos no eterno devir ou vir-a-ser. Nossa situação atual, por melhor que pereça a muitas pessoas, já não nos agrada mais: queremos mais, queremos outras coisas, queremos melhorar. Tudo aquilo que adquirimos já nos deu o prazer que poderia nos dar, mas já não o dá mais.

 

 

“O homem não é o que é, mas é o que não é.”

 

 

            Veja com que alegria nós compramos algo que tanto queríamos e que tivemos que batalhar muito para conseguir! Passamos algum tempo admirando-o como se fosse ele o responsável pela nossa felicidade! Como valeu a pena ter batalhado para conquistá-lo; como valeu a pena ter passado por todo esse sofrimento! Agora estamos felizes, conseguimos atingir a tão sonhada felicidade! Pena que essa felicidade dure tão pouco! Logo logo nos acostumamos com o que há pouco adquirimos e este nos parece a coisa mais normal do mundo: queremos algo melhor. A mesma coisa que era capaz de nos fascinar e nos encher de orgulho a semanas atrás já não nos dá um décimo daquela alegria! Isso acontece também com a nossa evolução pessoal, ou seja: por mais que o nosso maior sonho seja alcançado, por mais que consigamos nos tornar exatamente aquilo que queríamos ser, não ficamos eternamente felizes com isso; queremos ainda mais, sempre mais. O eldorado não existe nessa vida!

            Estamos e permaneceremos na eterna busca pela felicidade até o fim de nossas vidas. Entraremos em contato com ela inúmeras vezes, alguns mais outros menos, sempre que estivermos realizando algum desejo, mas jamais conseguiremos agarra-la de vez. A felicidade é o efêmero momento em que a vontade está sendo realizada.

            A vontade nunca desvanece e os obstáculos que somos obrigados a superar para conseguirmos saciá-la são, no caso dos nossos desejos mais íntimos ou daqueles que consideramos serem os mais importantes, imensos! Temos que estudar anos e anos para nos tornarmos o que queremos ser, temos que malhar horas e horas todos os dias para atingirmos o corpo desejado, temos que economizar meses e meses para podermos comprar aquilo que tanto queremos ou então temos que abdicar de outras tantas coisas que gostamos em prol de alguma outra que consideramos mais importante, que achamos que nos trará uma felicidade ainda maior. Só que essa felicidade, a qual tanto almejamos, só é capaz de nos proporcionar uma alegria avaramente medida, não permaneceremos felizes eternamente após termos atingido nossas metas. Novas metas, ou novos desejos, sempre surgirão.

          

 

“Os homens são construídos de tal forma que não poderiam ser felizes fosse qual fosse o mundo onde sonhassem encontrar-se. Se este mundo fosse isento de miséria e de dor, tornar-se-iam a presa do tédio, e na medida que pudessem fugir a este mal, recairiam nas misérias, nos tormentos, nos sofrimentos. Não bastaria, portanto, para conduzir o homem a um estado melhor, colocá-lo num mundo também melhor, seria necessário transformá-lo inteiramente.” (Arthur Schopenhauer)

 

 

            São muito comuns os casos de pessoas que são ricas, logo podem comprar o que querem, e são bonitas mas mesmo assim continuam infelizes, ou de pessoas que quando se conhecem, vêem um no outro a pessoa perfeita, o grande amor de suas vida, mas logo após algum tempo já não se gostam mais e atribuem a isso as mais diversas desculpas. Um exemplo muito comum é o de pessoas que, ao se apaixonarem, se dedicam inteiramente a uma relação e deixam de fazer muitas coisas que faziam antes, como conviver com os antigos amigos por causa do ciúme do cônjuge ou por querer estar apenas com a pessoa amada. No término da paixão, culpam um ao outro pelo fato de terem abdicado de suas vidas individuais. É claro que no momento em que a pessoa abdicou de todas essas coisas, para se dedicar apenas a vida a dois, ela o fez por amor, fez para poder ficar desfrutando sua paixão sem nenhum empecilho: o que ela mais queria naquele momento era ficar do lado da pessoa amada. O fato é que, se essa paixão não tivesse cessado, ela não estaria insatisfeita com a relação, pelo contrário: se a mesma paixão de outrora ainda existisse, o que ela mais desejaria, seria ficar a sós com o outro. O fato mesmo é que nós fomos “programados” para estarmos sempre em busca de coisas novas, sejam elas materiais, sentimentais ou de outra natureza.

            Se, ao atingirmos um objetivo de vida que nos desse um imenso prazer, permanecêssemos com essa alegria até os nossos últimos dias, nós, simplesmente, pararíamos de evoluir, pois não precisaríamos de mais nada; apenas ficaríamos gozando essa felicidade até a hora da nossa morte.

            Temos, naturalmente, um ávido desejo por poder. Todos nós queremos ser admirados e invejados pela nossa superioridade, seja ela financeira, atlética, artística, ou de natureza física mesmo, que na minha opinião é a que exerce o maior fascínio sobre os outros mortais. Por exemplo: Imagine uma pessoa que seja extremamente rica, mas todavia, extremamente feia e do outro lado uma que seja extremamente bonita mas muito pobre (fato esse que já se torna um tanto difícil devido às várias oportunidades que se abrem, naturalmente, a uma pessoa extremamente bonita). Qual delas vai ser a mais admirada, a mais invejada quando estiver ao redor de outras pessoas? Imagine agora uma pessoa extremamente talentosa, o maior talento de todos os tempos na sua área, seja ele o melhor jogador de todos os tempos, o maior cantor do mundo ou o presidente dos EUA. Aposto que esse não seria muito invejado se tivesse o rosto completamente deformado, aposto que raríssimas seriam as pessoas que gostariam de trocar sua situação atual pela situação de uma dessas pessoas. A não ser, é claro, que esse fosse, também, muito feio.

            Nós nos consideramos bons em alguma coisa, quando somos superiores aos demais. Por exemplo: Se fossemos a uma comunidade muito primitiva, onde a influência do mundo externo ainda não houvesse chegado e pegássemos as pessoas mais admiradas em determinadas áreas para compará-las com o que há de melhor no mundo, essas, com efeito, não teriam um desempenho maior do que o medíocre.

            Nos dias de hoje, com o fenômeno da globalização, somos obrigados a nos comparar ao que há de melhor dentre bilhões ou trilhões de habitantes por isso, a superioridade individual está se tornando cada vez mais difícil. Estamos, cada vez mais, nos sentindo muito aquém do que consideramos ser bom; está se tornando cada vez mais difícil atingirmos níveis elevados naquilo que queremos fazer ou ser. Há alguns séculos atrás essa comparação era feita entre um número muito menor de pessoas: era infinitamente mais fácil a possibilidade de uma pessoa ser considerada boa naquilo que fazia. Isso quer dizer que está se tornando cada vez mais difícil a possibilidade de sermos felizes? Não, absolutamente! Está se tornando cada vez mais difícil nos tornarmos os melhores naquilo que fazemos, porém a felicidade caminha por uma escala diferente. Enquanto que aqueles que se encontram nos graus mais elevados de uma área estão preocupados em se manterem lá, ou em não saírem de lá, aqueles que estão aquém desse nível estão batalhando para alcançá-lo! Em ambos os casos irão existir momentos de sofrimento, devido ao medo de perder aquilo que se tem em um caso e devido ao medo de não conseguir chegar aonde se quer no outro, e momentos de prazer, devido ao orgulho de se sentir superior e ser invejado no primeiro e devido ao orgulho de sentir que se está evoluindo a cada dia que passa no segundo caso. O importante é termos em mente que em ambos os casos ainda existirão desejos a serem realizados, logo: ainda existirão angústias e algum tipo de sofrimento.

 

 

“Querer é essencialmente sofrer, e como o viver é querer, toda a existência é essencialmente dor.” (Arthur Schopenhauer)

 

 

              Freqüentemente encontramos pessoas dizendo que o sentido da vida é ser feliz, mas não precisa ser nenhum gênio para perceber que a realidade não é essa, que não estamos aqui somente para sentirmos prazer, que o prazer é apenas um estímulo ao nosso crescimento: uma espécie de joguete que não se deixa agarrar e que não nos deixa aquietarmos em busca dele. No entanto não sou pessimista a ponto de dizer, como Schopenhauer, que, por essa razão, a vida não tem a menor razão de ser, que é o maior de todos os males.

            Mas qual o sentido de todos esses males, de todo esse sofrimento? Por que é que existe tanta dor, tanta desgraça nessa vida? Evolução! Através do sofrimento e da busca desenfreada por coisas novas que nos dêem prazer, nós vamos nos modificando, evoluindo. É como se tivéssemos sido programados de uma forma a nunca pararmos de batalhar por nossa felicidade! Enquanto estivermos aqui nessa vida estaremos a procura dela e acredito que seja justamente essa busca pelos nossos desejos, que nos fará passar pelas situações necessárias à nossa evolução espiritual.

            Finalmente: eis que surge o tão falado sentido da vida!

            Mas evoluir para que? Vou passar minha vida inteira evoluindo sem ter a chance de uma felicidade perene para que? Por mais que eu tenha evoluído muito eu vou morrer mesmo, minha vida vai acabar mesmo! Seria melhor se eu não evoluísse nada mas que eu fosse feliz! Fica obvio que esta linha de raciocínio só é válida para aqueles que não acreditam na eternidade do espírito e vêem essa vida como a única verdade ou possibilidade. Que verdade mais hermética eu poderia dizer!

            Não é à toa que, apesar de não compreendermos muito bem, todos nós temos a sensação de que existe uma outra vida; de que não deixaremos de existir após a morte. Se essa sensação nos fosse roubada, a vida perderia todo o seu sentido! Se tivéssemos a certeza de que esta nossa existência era única e portanto finita, quantas pessoas já não teriam dado cabo dela ou cometido as maiores loucuras que se pode imaginar por não serem capazes de suportar tamanho fardo em vão!

            Qual a melhor forma de se aprender o que se sente ao ser desrespeitado se não passar uma vida inteira sendo desrespeitado? Existe alguma forma mais eficaz de se entender como é o sofrimento dos outros do que passar uma vida inteira sendo maltratado e sofrendo? É esse o aprendizado que levaremos conosco: é esse o aprendizado da alma!

            Todas as pessoas que estão sofrendo muito nessa vida estão evoluindo enquanto espíritos, estão aprendendo, através do seu sofrimento, como é o sofrimento alheio. Só é possível saber, intimamente, o que se sente ao passar fome, ao ser espancado, ao ser humilhado ou passar por qualquer outra situação, passando por ela.

            Não se sinta culpado se você é uma pessoa abastada enquanto milhares estão passando fome por aí, nem fique muito chocado perante as atrocidades e carnificinas que são cometidas mundo afora! Toda essa violência faz parte da nossa evolução: é necessária para que atinjamos níveis espirituais superiores aos que nos encontramos. Um espírito bem evoluído para o nosso mundo já é capaz de entender que essas pessoas, que são capazes de tais atos indecorosos, não são espíritos ruins: são apenas espíritos que estão numa fase inferior da evolução espiritual.

            Por que o animal é capaz de comer o outro vivo? Porque ele não compreende o sofrimento do outro. Ele apenas segue os seus instintos, ele apenas obedece às suas vontades, sem se dar conta de que ao realizá-las, está fazendo mal a outro ser. Se nós saíssemos por aí realizando todas as nossas vontades, todas mesmo, seguramente iríamos acabar desrespeitando e prejudicando os demais.

            Talvez os animais possuam uma alma como a nossa; pode ser que eles apenas estejam em um nível de evolução inferior! Um espírito que esteja ocupando o corpo de um gato, por exemplo, futuramente poderá estar ocupando um corpo humano, assim como nosso espírito poderá estar ocupando corpos diversos no decorrer dessa evolução.

            Nosso corpo é como uma máquina e como as máquinas, quanto mais evoluída ela for, maior deverá ser a capacidade ou responsabilidade de quem a usará. Quanto mais evoluído um espírito for, mais evoluído será o seu corpo.

            A nossa evolução espiritual é acompanhada pela nossa evolução corporal, logo, como sugere a lei da evolução das espécies de Darwin: se um dia nós já ocupamos o corpo de um macaco e hoje ocupamos o corpo humano, qual será a próxima crisálida para a nossa alma? Será essa?

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            A cada dia que passa, com a crescente evolução tecnológica, vamos precisando cada vez menos da nossa parte física e cada vez mais do nosso intelecto. Enquanto que há muitos séculos atrás, para comermos um bife tínhamos que matar o animal, acender uma fogueira naturalmente, ou seja, esfregando galho no galho e segurar o bife no fogo, hoje apenas tiramos uma bandeja do freezer e a colocamos no microondas. Num futuro distante, provavelmente não iremos nem precisar do bife propriamente dito; apenas engoliremos uma pílula que será capaz de nos fornecer as proteínas necessárias ao nosso desenvolvimento, assim como o sabor que desejarmos. Precisaremos cada vez menos dos nossos músculos, devido às máquinas que surgirão, que serão capazes de fazer o que hoje precisamos fazer manualmente, de uma forma muito mais precisa e prazerosa para nós, e cada vez mais do nosso intelecto, devido ao número cada vez maior de informações que irão surgindo. Portanto, é natural que a nossa evolução, enquanto espécie, caminhe nessa direção: Aumento da cabeça e diminuição da musculatura corporal. Muitas pessoas já não estão mais desenvolvendo alguns dentes da nossa arcada: os quatro dentes do siso, por exemplo. A tendência é que os percamos cada vez mais.

            Nos indagamos constantemente sobre a existência de vida inteligente planeta afora, ficamos perplexos perante a vastidão infinita que se espalha pelo cosmo e tentamos de tudo para nos contactar com tais seres. Mas se tais seres superiores, que são capazes de viajar na velocidade da luz em suas naves espaciais, realmente existem, por que eles não fizeram nenhum tipo de contato conosco? Porque nós não estamos, ainda, preparados para isso! Se tal contato fosse feito agora, assim que nós tomássemos conhecimento de toda a tecnologia que eles pudessem nos ensinar, acabaríamos de vez com esse e com muitos outros planetas existentes por aí. Quanto mais poder, mais evoluído uma pessoa precisa ser para conseguir usá-lo para o bem, sem fazer mal a ninguém.

            Existem muitos seres humanos que, na sua essência, são mais aparentados com os animais do que com outros homens. Se você é daquelas pessoas que costumam discutir com os outros por qualquer fechada de trânsito ou um simples esbarrão na rua, eu pergunto: Se ao invés de um homem, quem estivesse guiando o carro que o fechou ou andando na rua fosse um leão, você discutiria com ele? É claro que não! E por que não? Porque você sabe que, além do fato de que o leão não vai compreender aquilo que você vai dizer, por mais correto que você esteja e por melhor que seja sua intenção, ele é um animal e poderá partir para cima de você caso você o irrite. Então não perca seu tempo nem sua vida discutindo por aí, não tente mudar os outros pois esses já estão sendo mudados: estamos aqui, exatamente por esse motivo!

            A agressão, a humilhação e a covardia contra outro ser humano, entre outras, se encontram entre as atitudes de níveis mais baixos na escala da evolução espiritual. Um ser humano que é capaz de, deliberadamente, agredir ou humilhar o próximo, sem sentir o menor remorso, ainda precisa evoluir deveras para poder ingressar em um nível superior de vida. Já, a serenidade e a compreensão se encontram, entre outras atitudes é claro, no outro viés dessa escala, ou seja: aqueles que são capazes de se conservarem tranqüilos perante as mais variadas situações, que conseguem compreender e respeitar as diferenças existentes entre os seres ou até mesmo perdoar e não guardar rancor ao próximo, mesmo que este tenha sido o agente de uma atitude ignóbil, se encontram em um nível de evolução bastante elevado, considerando esse mundo onde nos encontramos.

            Não devemos ter pena daqueles que estão tendo uma vida muito sofrida, uma vida de muitas privações e de muita dor, assim como não temos pena daqueles que passam uma vida inteira se dedicando ao seu aprendizado aqui na Terra. Não temos pena do vestibulando, quando este passa um ano inteiro se dedicando somente ao seu ingresso na universidade, pois sabemos que esta privação que ele está passando tem por objetivo sua evolução! O aprendizado nessa vida é como o microcosmo do nosso aprendizado espiritual, que seria o macrocosmo.

            É preciso que se entenda que, apesar de termos todos a mesma aparência, estamos em graus diversos de evolução espiritual. Isso fica evidente quando se compara um animal ao homem, mas de homem para homem fica muito complicado. O homem é capaz de dissimular, de fingir ser aquilo que não é, de agir mostrando uma coisa quando na realidade ele quer outra. Diferentes dos animais, que apenas reagem aos seus instintos e aos estímulos que vem de fora, muitos deixam de seguir seus instintos ou agem de uma forma diferente da que gostariam de agir, somente para se mostrarem melhores ou mais confiáveis do que realmente são.

            Não é pecado nenhum uma pessoa fazer mal à outra: é apenas uma questão de compreensão, de evolução. Aqueles que estão praticando os atos mais torpes nessa vida ainda têm muito que evoluir enquanto espíritos; eles ainda terão que passar por muito sofrimento para aprender a conviver em paz e a respeitar o próximo. Quando digo que eles terão que sofrer muito não estou me referindo à punição; não estou querendo dizer que esse sofrimento virá como uma forma de castigo pelo mal que eles fizeram aos outros em uma outra encarnação e sim à aprendizado, pois é através desse sofrimento que eles aprenderão a respeitar os outros. É sentindo na própria alma como é o sofrimento alheio que eles o entenderão. Ainda há aqueles que acreditam em purgatório!

            Vamos imaginar um espírito “virgem”, ou seja, um espírito que não tenha tido, ainda, nenhum tipo de experiência, que nunca tenha sentido nenhum tipo de sofrimento nem alegria. Suponhamos que essa alma viesse a encarnar em uma família que tivesse como valores somente o dinheiro e o seu próprio prazer; uma família que fizesse qualquer coisa para conquistar seus ideais hedônicos e subjugar os outros, por mais infames ou cruéis que fossem esses atos. Esse espírito, que encarnou incólume, certamente tomaria para si os mesmos valores que lhe seriam ensinados por seus pais, pelo fato dele ainda não compreender o sofrimento alheio. Ele seria capaz de fazer qualquer coisa; de prejudicar quem quer que fosse, para suprimir seus desejos pessoais. Chegaria uma idade em que sua razão seria capaz de entender que seus atos causam sofrimento aos demais, ou seja, ele saberia que se batesse em alguém esse alguém sentiria dor, ele saberia que a morte de um ente querido traria um sofrimento muito grande aos seus amigos ou familiares. Ele saberia de uma forma muito branda, apenas na teoria. Tente imaginar a dor de uma mãe ao ser torturada da maneira mais vil que sua imaginação conseguir criar e acrescente à essa imagem, a execução, através de muita tortura e muito sofrimento, de toda sua família bem na sua frente (uso aqui, como exemplo, a figura de uma mãe, pelo fato dela ser obrigada pela natureza a amar, talvez da forma mais intensa que um ser humano possa amar um outro ente, as suas crias. É o chamado amor incondicional). Conseguimos até vislumbrar tamanha dor, sabemos que seria um sofrimento tamanho, que essa mãe nunca mais se recuperaria. Somos capazes de imaginar tal sentimento, porém para conhecê-lo de fato, somente passando por tal situação.

            Por outro lado, se um espírito muito evoluído fosse estimulado a praticar o mal em prol de uma satisfação pessoal, esse repudiaria tal estimulo por saber, intimamente, o que tais atos provocam nos demais. Esse espírito não seria capaz de fazer um ente sofrer por saber, ele próprio, o que é sofrer.

            Mas por que existem pessoas que, apesar de já possuírem uma boa índole, continuam tendo uma vida tão sofrida? O quão boas são essas pessoas? Elas podem ser boas se comparadas com outras tantas ruins que existem por aqui mas será que já são boas o bastante para viver em um nível superior de vida? Pode ser que esse sofrimento acentuado tenha sido uma opção dela própria, na hora da reencarnação, numa forma de acelerar o seu processo evolutivo.

            É muito comum encontrarmos irmãos que, apesar de terem tido a mesma educação, procedem de uma forma completamente oposta um do outro, um se enveredando por um caminho mais glorioso, um caminho de moral e respeito ao próximo, enquanto que o outro se envereda por um caminho sórdido, onde vale tudo para se atingir seus objetivos. Isso ocorre porque, apesar de eles terem tido a mesma educação nessa vida, eles trazem bagagens diversas de outras vidas. Cada um está em um nível diverso de evolução espiritual. Por isso existem pessoas que, por mais educação que recebam, estão sempre desrespeitando e ferindo a outrem e outras que, apesar de terem recebido uma reles educação, se mostram pessoas super respeitosas e educadas.

            Vamos fazer uma analogia entre o nosso mundo e uma universidade: Suponhamos que cada vida, ou encarnação que tenhamos aqui seja como um período de uma faculdade, sendo essa a única realidade com a qual teríamos contato enquanto durasse nosso aprendizado. A  cada novo período, ou encarnação, a nossa memória, com relação aos fatos em si, seria apagada, restando apenas a essência daquilo que aprendemos. (Entende-se aqui como essência tudo aquilo que aprendemos ao passarmos pelas diversas situações de nossa vida, por mais que não nos lembremos mais delas, como: coisas que já aconteceram conosco, principalmente nos primeiros anos de nossas vidas. No entanto, o nosso comportamento e as nossas emoções estão intimamente ligados à esses momentos esquecidos - insiro, também, nesses momentos que não somos capazes de lembrar, todas as vidas passadas que possamos ter tido). Acrescente a isso os nossos novos objetivos, ou desejos. Por que desejos? Porque é através deles, na busca deles, que atingiremos as nossas metas espirituais.

            Assim como temos, na universidade, nossas matérias pré-ordenadas a cada período, a fim de que no final do nosso curso nos tornemos àquilo que desejamos ser, muitos dos acontecimentos que ocorrem conosco são previamente estabelecidos a fim de que possamos atingir nossa meta espiritual de cada vida. O corpo é o instrumento que necessitamos para o aprendizado de nossa alma.

            E o que nossa alma está aprendendo? Ela está aprendendo a lidar com os mais variados tipos de emoções ou sensações que possamos vir a sentir de uma forma que, um dia, seremos capazes de compreender intimamente qualquer ser existente, de forma que a convivência pacífica entre os seres não será mais uma utopia.

            Nós vemos com ótimos olhos uma pessoa que passa anos e anos estudando ou trabalhando o dia todo, sem parar para se divertir, só pensando na sua evolução, seja ela física ou intelectual, e ficamos muito admirados com tal comportamento. Porém, enxergamos com muita tristeza a idéia de alguém passar uma vida inteira sofrendo sem o menor objetivo aparente. Nos sentimos completamente consternados ao vermos a miséria mundo a fora como se essas pessoas estivessem sofrendo em vão, como se elas não estivessem aprendendo nada com esse sofrimento. Já disse mas não custa repetir: Tudo que nos acontece aqui está nos modificando enquanto espíritos, todos nós já passamos ou ainda teremos que passar por tais experiências para que estejamos prontos para uma convivência em um mundo melhor.

            Não é à toa que o objetivo de todo esse sofrimento não nos seja revelado, não é à toa que nós não temos a escolha de seguir ou não em frente, nessa busca pela nossa evolução espiritual. Essa escolha não nos é dada porque muitos de nós desistiríamos perante os obstáculos, assim como muitas pessoas desistem de seus ideais aqui na Terra por não suportarem ou não conseguirem se dedicar o necessário para alcançá-los. Quantos de nós não queriam ser médicos mas desistiram perante as dificuldades? Quantos não gostariam de se tornar astronautas mais não chegaram nem a tentar só de imaginar as dificuldades que encontrariam no caminho?

            Imagine, novamente, a dor de uma mãe ao presenciar o assassinato dos seus filhos, os quais a natureza já a obriga a amar incondicionalmente. Será que ela conseguiria continuar sua jornada aqui na Terra, carregando toda essa dor consigo, fosse onde ela fosse, se ela soubesse que só está passando por isso para que seu espírito evoluísse? Ou será que ela abdicaria da sua evolução para que tal dor cessasse, como muitos de nós abdicamos da nossa evolução nesse mundo?

 

 

             “Ser ou não ser, eis a questão! O que será mais nobre para o espírito humano: sofrer os ataques e as flechadas da fortuna adversa, ou pegar em armas contra um mar de dores e, enfrentando-as, por-lhes termo? Morrer… dormir; mais nada! E dizer que se acaba com as penas do coração e os mil choques de que é herdeira a carne! Eis um fim a desejar ardentemente. Morrer… dormir! Dormir… Sonhar talvez! Aí é que está o problema! Porque há que pensar nos sonhos que virão nesse sono eterno, quando nos libertarmos desta mortal crisálida! É este raciocínio que nos leva à desgraça de uma vida tão longa! Pois quem suportaria as chicotadas e o desprezo do mundo, a injúria do opressor, a afronta do soberbo, as ferroadas do amor incompreendido, as delongas da justiça, a insolência dos funcionários e o coice que o mérito paciente recebe dos indignos, quando se podia buscar repouso com a ponta de um punhal? Quem agüentaria tão dura carga, gemendo e suando, sob o peso de uma vida tão trabalhosa, se não fosse o pavor do que existe para lá da morte - essa região desconhecida cujas fronteiras nenhum viajante volta a atravessar -, temor que embaraça a vontade e nos obriga a suportar os males que conhecemos, em vez de correr para outros de que não sabemos nada? Assim a consciência faz covardes de nós todos, e assim o primeiro impulso da resolução esfuma-se no pensamento, e as tentativas de força e energia, perante este raciocínio, mudam o seu curso e perdem o nome de ação…” (William Shakespeare)

 

 

            Não é à toa que este é o solilóquio mais conhecido de todos os tempos. O único motivo que faz com que Hamlet não se mate, se livrando assim de todos os tormentos que esse mundo pode nos causar, é a incerteza com relação ao pós-morte.

            É mais gostoso passar anos e anos estudando ou gozando a vida seja como for? Se você respondeu que o mais gostoso é ficar estudando é porque estudar lhe dá muito prazer, logo sua resposta se enquadra na segunda opção. Então por que tantas pessoas escolhem o caminho mais árduo, ou menos divertido? Elementar meu caro leitor: Evolução! Porque querem se tornar pessoas melhores, porque desejam ter uma qualidade de vida superior no futuro!

            Pelo mesmo motivo que milhares de pessoas dedicam uma vida inteira aos estudos é que nós todos estamos aqui. Queremos evoluir para que um dia possamos viver num mundo sem preocupações, num mundo que essa nossa mente primitiva não consegue sequer vislumbrar.

            Esse mundo só não é perfeito porque nós ainda não estamos preparados para viver em um mundo perfeito. Não tenho a menor dúvida de que este lugar onírico existe e que, após termos terminado o nosso aprendizado, poderemos adentrá-lo. Quando isso ocorrer, seremos capazes de nos lembrarmos de todas as vidas pregressas que tivemos, uma vez que a reencarnação não será mais um mistério para nós.

            Por qual razão tentamos isolar os transviados e criminosos nos presídios? Por considerá-los inadequados a um convívio social pacífico. E o que são esses exilados? São seres humanos! Pois é! Se estamos nesse mundo onde a miséria se faz presente a todo o momento é porque ainda não estamos prontos para habitar em um mundo melhor. Se de um lado os criminosos estão trancafiados em grades de ferro por não terem se adaptado ao convívio social vigente, do outro lado estamos nós todos isolados nessa incrível prisão chamada Terra por não estarmos prontos, ainda, para viver em um mundo melhor.

Não fomos expulsos do paraíso, assim como foram Adão e Eva; só não conseguimos chegar à ele ainda.

            Todos nós temos nossas matérias prediletas no decorrer do nosso curso universitário e na nossa evolução espiritual não é diferente. Digamos que aqueles que estão tendo uma vida somente de revezes e muito sofrimento estão passando pelas matérias mais difíceis ou chatas enquanto que aqueles que estão tendo uma vida de prazeres estão passando pelas matérias mais fáceis ou prazerosas.

            Enquanto que na universidade, quanto mais estudamos, quanto mais nos dedicamos ao nosso aprendizado, melhores serão nossas notas e mais rápido concluiremos nosso aprendizado, na nossa vida, quanto mais nos dedicarmos aos nossos sonhos verdadeiros, mais rápido estaremos evoluindo e, por conseguinte, mais rápido conseguiremos passar para um mundo melhor. Por mais que você esteja passando por uma dessas “matérias” difíceis, ou seja, por mais que a sua encarnação atual tenha que ser muito sofrida para que você aprenda com esse sofrimento, quanto mais fiel você permanecer aos seus sonhos mais íntimos, mais rápido você irá evoluir e mais alegrias você receberá, como uma espécie de estímulo ou de recompensa pela sua dedicação e força de vontade. Claro que esses momentos alegres serão ínfimos se comparados com os de uma pessoa que esteja passando por uma “matéria” prazerosa, uma pessoa que esteja aqui para sentir na pele como é ser admirada e invejada por exemplo.

            O nosso desejo mais íntimo é tão simbólico no plano espiritual, quanto um diploma universitário o é no plano carnal, ou seja: não vale nada. Se colocássemos o nome de uma pessoa que nunca estudou engenharia em um diploma da Columbia University esse se tornaria um grande engenheiro? O diploma pode até significar muita coisa para os outros mas na realidade não vale nada, não nos acrescenta em nada enquanto pessoas, a não ser que tenhamos percorrido todo o caminho necessário para conquistá-lo, nesse caso, o que terá valor será o que aprendemos nesse caminho até o diploma e não o pedaço de papel em si. No nosso caminho espiritual não é diferente, aquilo que deveras desejamos nessa vida não vale nada a mais do que esse pedaço de papel, o que vale, o que nos modificará, nos tornando pessoas, ou espíritos, mais evoluídas, é o que aprendemos nessa busca pelos nossos desejos, logo, se uma pessoa não alcança o seu grande objetivo de vida, não quer dizer que ela falhou, pois o que vale é o quanto ela evoluiu nessa busca.

            Como diz Paulo Coelho: “Todos nós temos nossa lenda pessoal.”. Quanto mais fiéis permanecermos nessa nossa busca por ela, ou seja, quanto mais nos dedicarmos aos nossos sonhos mais íntimos, mais rápido nós estaremos evoluindo nessa vida e, pode até ser que, mesmo você tendo nascido para ter uma vida de muito sofrimento em prol do seu desenvolvimento, caso você se dedique demais aos seus objetivos, você consiga aprender aquilo que tinha que aprender com o sofrimento em alguns anos e a sua vida dê uma reviravolta total e que você passe a ter uma vida somente de alegrias para que você comece a evoluir em um outro aspecto do seu desenvolvimento espiritual, para que você aprenda como é a sensação de ser admirado, por exemplo.

            Enquanto que uma pessoa pode passar várias encarnações de sofrimentos e privações para entender tais sentimentos, para sentir na própria pele, ou espírito, o que eles significam, uma outra pode se livrar de tal martírio em apenas alguns anos. É apenas uma questão de força de vontade e dedicação aos seus ideais.

             É muito importante relembrarmos que, por mais que não atinjamos nossas metas referentes a essa vida, ou seja, por mais que não consigamos conquistar aquilo que queríamos e que batalhamos muito para conseguir, o que realmente conta, o que ficará conosco para sempre, é aquilo que aprendemos nessa jornada até nosso objetivo, além do que, ainda que tivéssemos realizado o nosso sonho, em pouquíssimo tempo, outro apareceria em seu lugar e assim por diante, porque enquanto estivermos aqui nessa vida, estaremos aprendendo alguma coisa e o caminho para esse aprendizado é a busca pelos nossos desejos.

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